by Marcos Rodrigues, PT, MSc (originalmente publicado no Linkedin no dia 4 de Março de 2018 no link: https://www.linkedin.com/pulse/era-da-desinforma%C3%A7%C3%A3o-e-amplia%C3%A7%C3%A3o-do-papel-marcos-rodrigues-/
Já não é de hoje que os pacientes tem acesso à informação de maneira muito mais abundante. Essa realidade já era comum no meu tempo de universidade, onde os supervisores de estágio já nos precaviam dizendo: A Dona Maria (ou Rosa, Joana, Laurinda, Ana e assim vai) já tem mais tempo de osteoartrose do que você de faculdade.
Contudo, num momento da evolução tecnológica da humanidade onde o acesso à informação é algo corriqueiro que depende de alguns cliques do mouse ou de um grupo de what’s app da família, já perdi a conta de quantas vezes já me vi contradizendo boatos on-line e corrigindo informações equivocadas quanto a procedimentos, crenças e curas milagrosas de exercícios imprescindíveis para a resolução imediata (e definitiva) das dores lombares (dentre outros).
Como Fisioterapeuta clínico e Doutorando em Ciências da Reabilitação na Universidade McGill, no Canadá, tenho observado de modo cada vez mais crítico a forma como meus pacientes se relacionam com a informação disponível atualmente em meios de comunicação e nos meios onde eles navegam socialmente, tais como clubes, escolas, trabalho, associação de bairro, igreja e mais. O mais surpreendente é que tenho observado a formação de um abismo e bipolaridade nas relações das pessoas com sua própria qualidade de vida. Além disso, tem sido cada vez mais comum a intolerância e aversão pura e simples aos fatos científicos.
Um exemplo clássico dessa contradição diz respeito aos benefícios da atividade física, que já vão muito além da simples perda de peso ou manutenção da saúde física. É sabido que o exercício físico regular atua como otimizador da capacidade intelectual, envolvendo não somente funções executivas mas também é um fator de prevenção para o aparecimento e progresso de doenças neurodegenerativas, tais como Alzheimer’s (Warburton et al., 2006; Brini et al., 2017).
Na verdade, o que mais me intriga na minha rotina como fisioterapeuta e pesquisador é o número elevadíssimo de pessoas que, ao invés de buscarem profissionais qualificados, se sujeitam às mais diversas técnicas milagrosas e criativas e preferem se fiar em receitas caseiras, “brilhantes” e definitivas. O resumo da ópera é que não existe uma solução mágica e ponto final. Essa é a mensagem que eu regularmente comunico aos meus pacientes, pois cabe a mim também engajar o paciente em uma parceria rumo a recuperação plena a sustentável.
Todavia, eu quero falar mais do que o óbvio.
Em países como o Canadá, onde exerço a fisioterapia desde 2015 após um árduo mas gratificante processo de equivalência de diploma, a fisioterapia, como profissão, vai ganhando de forma sólida e progressista, um papel fundamental dentre as profissões da saúde. Em 2015, quando era vice-presidente de pesquisa clinica em AVC da Associação de Trainees da Parceria Canadense de combate ao AVC (CPSR em inglês), numa reunião com a Dra Sandra Black, médica renomada e cientista sênior na área de AVC no Canadá, ela pessoalmente me disse, ao questioná-la sobre continuar ou não na carreira acadêmica, que o futuro estará nas mãos de fisioterapeutas com PhD.
O Canadá é um dos líderes mundiais no desenvolvimento da fisioterapia, liderando pesquisa e modelos de cuidado do mundo e nas mais diversas áreas de atuação da fisioterapia. Num artigo interessante e esclarecedor, Patricia Connors, diretora executiva da associação de Fisioterapia de Nova Escócia, uma província do leste Canadense, afirma que os fisioterapeutas desempenham um papel valioso na prestação de cuidados abrangentes e específicos, inclusive atuando como primeiro ponto de contato para os pacientes nos serviços de saúde primária canadenses.
O artigo entitulado “OPINION: Enhancing physiotherapists’ role would boost health care” também menciona como exemplo de sucesso, que a província de Ontario, no centro do Canadá, teve seu orçamento reestruturado para inserir integralmente os fisioterapeutas nas equipes de cuidados de saúde primária desde 2013. Atualmente, existem cerca de 80 fisioterapeutas que trabalham nas 60 equipes de saúde primária naquela província. Pesquisas indicam que os benefícios de ter fisioterapeutas como primeiro ponto de contato nessas equipes de saúde primária incluem, dentre outras, a) capacidade aprimorada para essas equipes fornecerem cuidados no mesmo dia, b) redução dos tempos de espera para ver os médicos em condições específicas de âmbito médico (exemplo: fraturas), c) maior adequação da referência à especialistas, d) diminuição do número de visitas futuras para o gerenciamento da dor, o que resultoupor consequência, uma diminuição da quantidade de medicamentos para dor prescritos, resultando em melhor qualidade de vida.
Tenho muito orgulho de ser fisioterapeuta e sempre me disponibilizo para esclarecer aos pacientes e comunidade em geral sobre o papel profundo e abrangente do fisioterapeuta na saúde como um todo. Sinto que o desenvolvimento desse reconhecimento profissional está diretamente relacionado com um processo de educação do profissional e da população para que ambos possam compreender que visitar o fisioterapeuta não deve acontecer somente quando a lesão se instala ou se agrava mas também, por exemplo, quando algo não parece certo, quando o objetivo é prevenir, restaurar ou reeducar.
O Fisioterapeuta no Canadá tem uma formação excelente, que segue diretrizes nacionais da Aliança Canadense de Fisioterapia. A Aliança desenvolveu em 2009, o perfil de competências do fisioterapeuta. Em outras palavras: o conhecimento, as habilidades e atitudes que são importantes para o desenvolvimento de sua carreira como profissional da saúde. Essas competências são: Especialista, Comunicador, Colaborador, Administrador, Defensor, Profissional erudito, e Profissional (Para saber mais clique aqui). Essas competências profissionais guiam a prática profissional e a formação profissional no país, ditando as regras de como se estruturam a acreditação dos programas de fisioterapia, avaliações, projetos e, obviamente, a pesquisa científica em fisioterapia, servindo como uma base para que sejam construídas as pontes que conectam todaa expertise e diferenciais do Fisioterapeuta com a comunidade que ele serve, fazendo com que nos tornemos cada vez mais a referência em saúde no mundo todo.
Se você está sentindo dor, busca mais informações sobre saúde e prevenção de doenças ou até mesmo precisa desenvolver um programa de educação para seu bairro ou escola, fale com um Fisioterapeuta, ele está mais do que pronto pra te ajudar a encontrar a solução do seu problema.
Marcos Rodrigues, PT, MSc
Referências:
- Warburton DER, Nicol CW, Bredin SSD. Health benefits of physical activity: the evidence. CMAJ. 2006 Mar;174(6):801-809. doi: https://doi.org/10.1503/cmaj.051351
- Brini S, Sohrabi HR, Peiffer JJ, Karrasch M, Hämäläinen H, Martins RN, Fairchild TJ. Physical Activity in Preventing Alzheimer’s Disease and Cognitive Decline: A narrative Review. Sports Med. 2018 Jan;48(1):29-44. doi: 10.1007/s40279-017-0787-y
- Connor, P. “OPINION: Enhancing physiotherapists’ role would boost health care” Published February 22, 2018 – 5:00pm (http://thechronicleherald.ca/opinion/1547833-opinion-enhancing-physiotherapists%E2%80%99-role-would-boost-health-care)
- National Physiotherapy Advisory Group. Canadian Alliance of Physiotherapy. “Essential Competency Profile for Physiotherapists in Canada” (http://www.physiotherapyeducation.ca/Resources/Essential%20Comp%20PT%20Profile%202009.pdf)